sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

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A concepção de infância que temos na atualidade é completamente diferente das sociedades na idade média. Hoje temos claramente a concepção de que a infância é uma das fases do desenvolvimento humano mais importante, que compreende o período de 0 a 12 anos, sendo dividida em primeira infância (0 a 3 anos), segunda infância (3 a 6 anos) e terceira infância ( 6 a 12 anos). Este período é marcado por um grande desenvolvimento na pessoa em seus aspectos físicos, emocionais, sociais e intelectuais, e possui especificidades próprias e requer atenção especial. Hoje sabemos que a criança é diferente do adulto e tem necessidades, desejos e precisa de cuidados específicos.

Em tempos remotos, segundo Ariés, até o século 12, os relatos sobre a participação da mesma, no meio social, era quase invisível. A infância não existia. Registros mostram que a criança começa a aparecer no cenário social, entre os séculos 13 a 16, retratadas por artistas em algumas obras de arte.

No Brasil, apesar das interferências de etnias e das culturas trazidas pelos nossos colonizadores, o tratamento às crianças como um ser, “sem muita importância”, se assemelhavam ao tratamento europeu. A história relata crianças escravas, imigrantes e órfãos, que vinham nos porões das embarcações nesse período turbulento , quando não morriam na viagem, padeciam como escravos nas fazendas e os órfãos eram explorados como mão de obra sem remuneração. Tinham somente como recompensa o alimento, vestimenta e moradia das famílias que o adotavam. A partir dos 7 anos de idade, as crianças estavam aptas a serem inseridas para a aprendizagem de tarefas domésticas, entres outras atividades e convívio social com os adultos. Vale ressaltar que esse tratamento, como nos dias atuais, cabia as crianças de famílias pobres; aos filhos dos ricos, a criação era mais voltada aos estudos e formação intelectual, porém a concepção de infância era a mesma.

Somente a partir do século 16, começa a surgir um sentimento de valorização social das crianças e com ele, um comportamento diferente da sociedade, a paparicação e a exasperação, como relatado na citação abaixo:
Contudo, um sentimento superficial da criança – a que chamei de “paparicação” – era reservado á criancinha em seus primeiros anos de vida, enquanto ela ainda era uma coisinha engraçadinha. As pessoas se divertiam com a criança pequena como um animalzinho, um macaquinho impudico. Se ela morresse então, como muitas vezes acontecia, alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não fazer muito caso, pois outra criança logo a substituiria. A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato” (ÁRIES,1981, p.10).


Em outras palavras, a criança era como um objeto de diversão da família e mais ao mesmo tempo um ser tratado com rígidez. Mesmo com uma tímida valorização da infância por parte da sociedade europeia, os índices de mortalidade, principalmente nos primeiros anos de vida, era muito grande.


Ainda no século 17, a Europa Ocidental começava a passar por transformações culturais, sociais e econômicas. O capitalismo e a criação de instituições de ensino, era algumas das mudanças que impactaram esse período da história. Durante este redemoinho de transformações, surgem dois pensadores o inglês John Locke e o suíço Jean Jacques Rousseau. Locke, afirmava que a criança era um papel em branco e que seria moldada conforme o meio que vivia. Já Rousseau, defendia a teoria da pureza e inocência das crianças e que as instituições sociais seriam as principais responsáveis por corrompê-las. Este intelectual, começou a despertar a concepção que a criança tem a sua natureza e especificidades próprias e estas precisam ser respeitadas.

Entre os séculos 17 a 19, teve-se uma visão romântica da infância, a criança passou a ser vista como seres pensantes, sensíveis e de consciência moral de valores.
Finalmente a partir do século 19, nos EUA a classe média passaria a ter uma visão de infância diferente de tudo que até então se conhecia. Segundo a nova concepção, a criança necessitava de espaço para brincar, afeto, cuidado e proteção. Vale destacar que contraditório a essa nova concepção, as crianças de famílias pobres da época, tinham que trabalhar para ajudar os pais, uma realidade do passado, mas que continua, em alguns casos, historicamente presente nas sociedades com baixo poder aquisitivo.

Acredita-se que os estudos realizados por Áries sobre a infância, tenha contribuído de forma decisiva e significativa, problematizando, abrindo questionamentos e chamando a atenção da sociedade para a valorização da criança no contexto social, econômico e humano.

Quando nos referimos a valorização da infância e da psicologia do desenvolvimento humano, não poderíamos deixar de citar Henri Wallon, esse notável estudioso e teórico, que criou a teoria da psicogênese. Segundo ele, o desenvolvimento infantil é marcado por suas sucessivas etapas, cujo o ritmo é de descontinuidade, rupturas, retrocessos e reviravoltas. E estudando a criança, Wallon descobriu o desenvolvimento do homem na sua plenitude.

Wallon, divide sua teoria em estágios: impulsivo emocional, sensório-motor e projetivo, personalismo, categorial e estágio da adolescência. Wallon, grande teórico da inteligência emocional. Conforme o mesmo, na primeira e segunda infância, ocorrem uma das mais importantes etapas do desenvolvimento humano, a socialização. Nessa etapa, há uma explosão de emoções e uma entrega quase que total ao afeto, brincadeiras e a confiança na proteção dos pais. A exemplo disso, a amizade com outras crianças sem distinção de cor, raça, condição social e econômicas. E nessa fase onde se desenvolve a comunicação através do choro, estabelecendo as primeiras relações de conquista de pessoas e de mundo. 

É importante destacarmos também a contribuição de outros estudiosos para a desenvolvimento da infância, como Pestalozzi e Froebel que criaram os Jardins de Infância.
O tempo passa, as mentes mudam, as sociedades se transformam e os desafios antigos continuam. De fato, hoje constatamos que o conceito de infância de acordo com os estudos de Áires, ao longo dos séculos sofreu mudanças, transformações importantes e significativas, no sentido de despertar na comunidade científica e sociedade questionamentos, problematizações e soluções para valorização e inclusão da criança como pessoa humana, completa, porém em desenvolvimento e com especificidades próprias. De acordo com o RCNEI:

Modificar essa concepção de educação assistencialista significa atentar para várias questões que vão muito além dos aspectos legais. Envolve, principalmente, assumir as especificidades da educação infantil e rever concepções sobre a infância, as relações entre classes sociais, as responsabilidades da sociedade e o papel do estado diante das crianças pequenas.” (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, 1998, p.17).

Há novos desafios na contemporaneidade, outros são bem antigos, como a exploração do trabalho infantil, a pedofilia, a violência sexual, a precarização da saúde, a fome, a falta de moradia digna. Outros desafios se apresentam na contemporaneidade como o uso indiscriminado da internet, a pornografia infantil, o suicídio infanto-juvenil influenciado por jogos digitais, a falta de limites entre pais e filhos que tem reflexos na Escola com a indisciplina, desrespeito aos professores, violência, evasão, falta de interesse pelos estudos, uso de drogas, a alfabetização incompleta, o aumento de crianças com deficiências, entre outros. Portanto, se faz necessário a criação de novas políticas públicas de inclusão, apoio e proteção a infância e a adolescência em situação de risco e de vulnerabilidade.


É notório e de conhecimento público que nos últimos anos, recebemos novos reforços como a LDB, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar, Disque 100 e entre outros. É importante também ressaltarmos a ajuda internacional por parte da UNICEF- Fundo das Nações Unidas Para o Desenvolvimento da Criança e da Adolescência, órgão internacional criado em 1950, com sede em Nova York, que tem como objetivo a defesa dos direitos das crianças e adolescentes em todo mundo. No Brasil, sua atuação se concentra nas regiões norte e nordeste, premiando com o selo Unicef os municípios que se destacam na promoção, proteção e desenvolvimentos de crianças e adolescentes.


REFERÊNCIAS:

XAVIER, Alessandra Silva; NUNES, Ana Ignez Belém Lima. Psicologia do Desenvolvimento. 126p. 2ª Edição. Publicação do Sistema UAB/UECE. Fortaleza. 2011.

ROCHA, Antônia Rosimar Machado e. História da Educação. 98p. 2ª Edição. Publicação do Sistema UAB/UECE. Fortaleza. 2010.

LIMA, Maria Socorro Lucena; SILVA, Elisangela André de; BRITO, Célia Maria Machado de. BARRETO, Marcília Chagas. Metodologia do Trabalho Científico. 94p. 2ª Edição. Publicação do Sistema UAB/UECE. Fortaleza. 2010.

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1973.

BRASIL. Lei n.9394, Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Editora do Brasil.

BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília, DF: MEC, 1998.

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